O Mal da África


O Paolo me conta sempre que quando a Italia invadiu a Etiopia na segunda guerra em 1935 sob o comando de Mussolini, muitos soldados italianos, casados e solteiros não retornaram a Italia, eles simplesmente desapareciam, não mandavam mais noticias,  as pessoas nominaram essa ausência  de Mal da Africa, mais tarde veio se saber que estes soldados encantados com a beleza das etíopes, constituíam novas famílias e não retornavam para sua família de origem. 
Realmente a beleza das etíopes não é algo trivial. Outro dia no metro em Nova York eu parei um grupo de meninas para dizer que elas eram lindas e  como tinha apostado com o Paolo que elas eram etíopes, perguntei de onde elas eram e batata: Etiópia.  
Essa introdução é para contar que eu estou sofrendo o Mal da Africa, depois de uma semana na Cidade do Cabo e ao voltar para temperaturas glaciais que faz aqui, senti uma certa melancolia. 

Deu praia. Deu praia todos os dias. Acho incrível como cada cultura utiliza de maneira diferente o mesmo lugar: a praia. Por exemplo: não tem vendedor ambulante na praia, não tem pedintes e nem medo de ser assaltado também, você pode cochilar ou dormir tranquilamente, pode também entrar na água sem medo de deixar suas coisas na areia. Também percebi que não há uma supersexualização dos corpos, ao contrário do que acontece nas praias do meu país, nenhuma mulher arrebita a bunda pra entrar na água ou estender sua canga, não vi nenhuma delas   arrumando  seu biquíni lascivamente, não existe essa necessidade pra chamar atenção, ao contrario de muitas mulheres (inclusive eu) no meu país,  elas não aprenderam que seu poder esta no seu corpo,  vi surfistas, vi jovens e homens maduros lindos,porém nenhum homem super bombado em sungas minúsculas, as pessoas usam seus corpos para praticar esportes e se divertir na praia, só. Fiquei com pena de ter nascido numa sociedade que dá tanta importância ao efêmero.  Observei as famílias e pasmem: as mães cuidam dos próprios filhos, não vi babás, frequentei praias chiques e vi que as mães brincam, alimentam, trocam, passam protetor solar nos próprios filhos. Fiquei me perguntando se aqui não tem mães de Instagram como no país que nasci, onde essas  exibem suas babás uniformizadas, como símbolo de status.  Existem problemas sociais que são evidentes, aqui ou você é branco ou preto, fica fácil perceber que as pessoas não se misturam e isso é triste. Visitei o presidio em que Nelson Mandela ficou parte dos 27 anos em que esteve preso,  Robben Island, um lugar lindo  um santuário de preservação de muitas espécies de animais  em extinção mas um lugar triste também, que faz lembrar de como o ser humano é capaz de desumanizar o outro simplesmente por se sentir superior, mais triste ainda é constatar que no meu país isso vem acontecendo constantemente com a aquiescência do governo atual. Pessoas, racistas, classicistas, homofóbicas, xenófobas, vestidas pelo manto da religião, lembrando que os terroristas da Al Quaeda fazem o que fazem em nome da religião tal e qual. Parece que não aprendemos com a historia, quem sabe com o sofrimento...  Pena.

Deixo registrado aqui que compensa muito arriscar-se a sofrer O Mal da Africa, pois ele faz um puta bem, ao corpo e a alma.  

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